segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quase dá para comer!

Do redator de Despertai! no Japão

VOCÊ olha fascinado para o que parece ser um prato delicioso. Ele desperta seu apetite e você fica com água na boca. Mas o estranho é que essa “comida” não tem aroma, sabor ou valor nutritivo. Ela nunca vai estragar e não precisa ficar na geladeira. Do que estamos falando? No Japão, só pode ser de uma coisa — um modelo plástico de comida. Comida de plástico é uma réplica de vinil de algum item encontrado no cardápio de um restaurante. É produzida no mesmo tamanho, forma e cor do item verdadeiro.

Essas amostras de comida existem em várias formas — dos tradicionais pratos japoneses, tais como sushi, aos pratos ocidentais prediletos, como pizza e macarronada. Também há réplicas de bebidas, aperitivos e sobremesas. A variedade é enorme! De fato, certo fabricante oferece mais de dez mil itens diferentes de comida.

A comida de plástico parece de verdade. Detalhes como a aparência crocante da pele de um frango assado, uma fatia de melancia com suas sementes posicionadas de modo irregular e a leve curvatura numa folha de alface são perfeitamente imitados. Mas como a comida de plástico se tornou tão popular em restaurantes no Japão?

No fim do século 19, alguns restaurantes começaram a expor suas amostras de comida estrangeira para o público japonês. Assim, as pessoas que passavam em frente ao restaurante podiam ver como era a comida sem precisar entrar. É claro que essas amostras atraíam não só pessoas mas também insetos e animais. A comida estragava devido ao calor e à umidade e por isso ficava caro preparar esses pratos todos os dias.

Com o tempo, essas amostras de comida de verdade foram substituídas por réplicas de cera pintada. Mas a cera tinha a grande desvantagem de deteriorar com clima quente e acabou sendo substituída pelos plásticos de vinil. Este era finalmente um produto durável, capaz de resistir ao calor e, ao mesmo tempo, atrair apenas o tipo certo de cliente — pessoas! Mas como as réplicas de plástico são produzidas?

O que se faz primeiro é um molde da comida. Por exemplo, um bife é colocado num recipiente quadrado. Enche-se o recipiente com silício até que o bife fique completamente imerso. Depois que o molde endurece, ele é virado e o bife é retirado, deixando seu formato impresso. Em seguida, vinil colorido é despejado dentro do molde e levado ao forno a 82 graus Celsius. Depois de esfriado, a imitação de bife é retirada e já pode ser pintada.

Para fazer um sanduíche, cada componente — pão, carne, queijo e alface — precisa ser moldado separadamente. Depois disso, o processo é similar ao de preparar um sanduíche de verdade. Os itens são colocados um em cima do outro entre as fatias de pão. No caso do sanduíche de plástico, porém, é uma cola que segura os ingredientes juntos.

Em certo sentido, fabricar comida de plástico é uma forma de arte. “A chave para fazer com que comida de plástico pareça real é examinar cuidadosamente comida de verdade”, diz Katsuji Kaneyama que trabalha na área há cerca de 23 anos. “As pessoas encaram o alimento como algo a ser consumido. Nós o encaramos como algo a ser fabricado.”

Ao olhar com atenção uma tigela de arroz japonês que acabou de ser feito percebemos que os grãos individuais parecem se destacar uns dos outros. Todo o arroz “fica junto, formando um montinho uniforme no meio da tigela”, explica Kaneyama. Para criar esse efeito, cada grão precisa ser moldado separadamente. Apenas juntar os grãos não seria suficiente pois eles não formariam o montinho. Por isso, os grãos precisam ser cuidadosamente colados numa posição que imite a aparência do arroz verdadeiro. Esse toque realista torna a comida atraente até para as pessoas mais detalhistas.

São necessários anos de experiência para se tornar um especialista em fabricar comida de plástico. Um aprendiz pode levar alguns anos para assimilar as técnicas básicas, começando com os itens mais simples, como cogumelos. Demora cerca de dez anos de estudo para se conseguir fazer uma réplica convincente de peixe fresco, com suas complexas texturas e cores, e até 15 anos para alguém ser considerado um perito na área.

Se você passar por um restaurante no Japão e se deparar com pratos de dar água na boca, lembre-se do trabalho meticuloso que foi empregado na sua fabricação. É bem provável que fique em dúvida sobre o que exige mais habilidade — preparar comida de verdade ou fazer uma imitação de plástico!

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