Independentemente de qual tenha sido a sua origem, o cheiro forte sempre foi a característica mais notável do surströmming. O autor dum livro de receitas do fim do século 19 escreveu sarcasticamente: “Eles [os apreciadores] consideram-no uma iguaria das mais requintadas; mas nunca será servido em banquetes, a menos que o anfitrião prefira comer sozinho ou, quem sabe, com convidados sem nariz.” Hoje se vê que ele estava errado. Apesar do cheiro, o surströmming é servido em banquetes e considerado uma iguaria. As pessoas raramente o comem num almoço ou jantar comum. Convidar os amigos para comer surströmming é um evento social. Sua popularidade se espalhou por toda a Suécia, embora o centro do surströmming ainda seja o trecho da costa norte chamada de Costa Alta.
Esse ainda é um prato tipicamente sueco. Poucas pessoas fora da Suécia já ouviram falar no surströmming ou o provaram. Assim, estrangeiros desavisados que são convidados para provar essa “iguaria” ficam chocados pelo menos duas vezes. O primeiro choque é quando se abre a lata e o cheiro começa a se espalhar. Logicamente concluem que a comida apodreceu e que o anfitrião sem dúvida vai jogá-la fora e servir outra coisa. Daí, vem o segundo choque: o anfitrião e os outros convidados começam a comer o peixe malcheiroso e, pelo jeito, gostam muito! Alguns estrangeiros “corajosos” aprenderam a apreciar o surströmming; outros não. O comentário do famoso chefe de cozinha Keith Floyd sobre o seu primeiro, e aparentemente último, encontro com o surströmming foi: “Indescritivelmente nojento.” Entre outras coisas, Floyd já comeu vermes na África, pepinos-do-mar na China e najas no Vietnã. Mas o surströmming foi a gota d’água. Ele disse: “As pessoas muitas vezes me perguntam qual foi a coisa mais repulsiva que já comi. Agora tenho a resposta.” Uma tentativa de levar o prato para os Estados Unidos, nos anos 30, foi frustrada quando as autoridades alfandegárias de Nova York abriram uma lata e acharam que estavam sofrendo um ataque com gás venenoso. Declararam-no substância “imprópria para consumo”.
Nem mesmo os suecos são unânimes. Esse é o tipo de prato sobre o qual ninguém fica indiferente. Ou gosta, ou detesta. Anders Sparman, médico da corte da Rainha Cristina, em meados do século 17, escreveu que o surströmming cheirava a excremento fresco. Por outro lado, Carlos Lineu, famoso botânico sueco do século 18, o apreciava muito e até deu receitas úteis em seus escritos. Suecos que vivem no exterior muitas vezes mencionam que o surströmming é uma das coisas de que mais sentem falta.
O livro Längs Höga Kusten (Ao Longo da Costa Alta) menciona que já houve tentativas bem-sucedidas de eliminar o cheiro, mas elas não tiveram êxito comercial. Para os apreciadores, o surströmming sem cheiro não é o surströmming legítimo.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
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